sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Cervejaria belga tenta crescer sem perder o sabor


A Duvel Moortgat SA quer ser uma daquelas raras grandes cervejarias que também produz bebidas para o paladar refinado. Para o deleite dos acionistas, o crescimento da cervejaria belga ultrapassou largamente o dos concorrentes nos lentos mercados de cerveja da Europa Ocidental. As vendas dobraram nos últimos cinco anos. Ela é agora a segundo maior cervejaria da Bélgica em termos de receitas, depois da líder mundial Anheuser-Busch InBev SA.
E, na maioria das vezes, ela manteve a reputação entre os amantes de cerveja, apesar de alguns nos Países Baixos questionarem agora se o seu tamanho diluiu a magia das cervejas que portam seu nome, como a Duvel, uma cerveja dourada, do tipo ale, seca e frutada, também vendida nos Estados Unidos.
A Duvel fechou mais um saboroso ano em 2010, aumentando o lucro líquido de 14,9 milhões de euros para 18,9 milhões de euros (US$ 27,5 milhões). O preço das ações subiu de 16 euros em 2003 para cerca de 74 euros. A receita, de 137,3 milhões de euros no ano passado, deve crescer para 172,1 milhões de euros em 2012, segundo analistas.
"É o tipo de empresa onde é difícil encontrar defeitos", diz Kris Kippers, analista da Petercam, um banco privado com sede em Bruxelas. "Mas talvez as pessoas tenham ficado tão animadas que o preço das ações subiu demais".
Kippers e outros analistas mencionam a Boston Beer Co., que fabrica a Sam Adams, como uma cervejaria comparável nos EUA e um modelo para a Duvel. A Boston Beer lucrou US$ 50,1 milhões no ano passado com vendas de US$ 464 milhões.
Ambas partilham de uma fórmula semelhante: preços altos, cervejas saborosas, marketing criativo e ênfase rara em ir atrás dos consumidores na Europa Ocidental e nos EUA, enquanto os concorrentes buscam crescimento na Ásia, Rússia e América Latina.
O Ocidente tornou-se um mercado desafiador para fabricantes de cerveja, com uma população que envelhece e bebe menos cerveja. A AB InBev informou que seu volume total caiu 2,5% na Europa Ocidental e 0,9% na Europa Central e Oriental em 2011. Já a Duvel expandiu as vendas na Bélgica em 24%, na Holanda, 17% e, na França, em 10%.

Qual é o segredo? "Nós nos tornamos um luxo acessível para os consumidores daqui", disse o diretor operacional, Daniel Krug. "Nosso foco são os mercados maduros. Para nós, a China não é obrigatória. Queremos apelar às pessoas que estão bebendo cerveja normal e querem beber algo um pouco melhor."
A Duvel é uma cervejaria à moda antiga, fundada pela família Moortgat em 1871 em Breendonck, uma pequena aldeia flamenga ao norte de Bruxelas. A família ainda é dona de três quartos das ações e já se recusou a vender.
Na década de 1920, a Duvel desenvolveu a sua cerveja mais famosa, inicialmente chamada Victory Ale em comemoração ao fim da Primeira Guerra Mundial. Segundo a lenda da empresa, um sapateiro local observou que ela tinha o "gostinho do diabo". Hoje, a suave cerveja responde por cerca de 55% do faturamento da empresa.

A Duvel andou a passos lentos até os anos 1990, quando uma nova geração da família decidiu transformar o negócio em uma empresa mais moderna. Em 1999, uma nova geração de líderes na família, encabeçada pelo CEO Michel Moortgat, partiu para a Bolsa de Bruxelas. Moortgaat, que ainda está no comando, contratou vários talentos de marketing da Anheuser, incluindo o atual diretor de marketing, Johan Van Dyck.
No comando de Van Dyck, Duvel aumentou as vendas e ganhou prêmios pela construção de sua imagem e marca. Sua propaganda mais famosa propaganda é uma grande foto de sua distintiva taça cheia até a borda com cerveja dourada. "Dizemos que a taça é uma ferramenta", diz Krug. "Você tem que beber o Duvel com aquela taça."
A Duvel também pintou tambores de concreto com a aparência externa de uma garrafa de Vedett, uma de suas cervejas to tipo lager. "Elas vendem bem, e os conhecedores do assunto gostam de suas cervejas e além do mais ela também é uma grande empresa", disse Joris Pattyn, autor do livro "100 Cervejas Belgas Para Você Provar Antes de Morrer".

A marca atraente e o sabor característico "significa que eles podem ficar livres de cobrar preços mais altos", diz Kippers. No Delirium, o maior e mais conhecido bar de cerveja de Bruxelas, o barman disse que, na maioria das noites, a Duvel é uma das dez cervejas mais vendidas. E o poder de precificação é aparente. Uma taça custa 3,35 euros, em comparação a 2 euros para uma cerveja lager do tipo draft. "Eles são muito bons de marketing e os turistas a reconhecem através das placas espalhadas por Bruxelas", disse Thibault Cordonnier, um dos barmans do Delirium. "Além disso, as pessoas gostam do nome, que significa Diabo. Temos outra cerveja, chamada Lúcifer, que vende muito bem."
Mas o entusiasmo não é totalmente unânime. "Se alguém nos pede uma recomendação, vamos sugerir algo de uma pequena cervejaria, mais artesanal", diz Cordonnier. "Os barmans daqui, que são todos especialistas, realmente não bebem mais Duvel. Achamos que ela é apenas ligeiramente melhor do que uma Stella Artois". A Stella Artois é uma das marcas de cerveja da AB InBev mais vendidas no mundo.
Ainda assim, o desempenho robusto das vendas fez com que a Duvel crescesse para 565 funcionários e expandisse através de aquisições. Ela agora possui seis fábricas de cerveja, quatro na Bélgica, uma na República Checa e uma nos EUA.
A Duvel comprou a cervejaria Ommegang em Cooperstown, no Estado de Nova York, em 2003. "Nos EUA, as pessoas estão despertando para a cerveja artesanal", diz Van Dyck, o diretor de marketing. No ano passado, a Duvel lançou a Duvel Triple Hop nos EUA, onde suas vendas cresceram 38,92% no ano passado.
No ano passado, a Duvel comprou De Konninck, uma cervejaria belga tradicional sediada na Antuérpia. Ela já aumentou sua produção anual na fábrica de cerveja, que tem 90 funcionários, cerca de 50%.
No entanto, quando se trata de ser engolida, a empresa não está interessada. "Somos uma cervejaria atraente para outras empresas", disse Krug. "Mas não estamos à venda."
 Fonte: WSJ

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